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sexta-feira, 14 de agosto de 2015

A viagem (i)

A noite anterior à partida foi longa. De certo modo, achei que tinha despedidas a fazer: sentei-me no sofá da sala, olhei para a minha vida nos últimos meses e assegurei-me de que tomava a decisão correta. Adormeci.
         Acordei um pouco antes das 5 e tomei um duche. Sem saber muito bem quando poderia repetir o prazer de um banho, demorei-me a sentir a água quente tocar-me a pele. De olhos fechados, vi tudo o que tinha conquistado até chegar a este momento. Vesti uma roupa leve, um casaco quente e carreguei uma mala praticamente vazia. O táxi estava à porta à hora marcada:
-    Bom dia, menina!
-    Bom dia. - respondi sem corresponder ao entusiasmo matutino.
-    Então vamos lá até ao aeroporto.
-    Sim, obrigada.
         O taxista estava bem disposto e com vontade de conversar, mas as minhas respostas curtas desencorajaram-lhe as tentativas. Peguei na pequena mala (que não passou sem um comentário do homem), paguei o percurso e parei defronte da placa PARTIDAS. Ainda era de noite e estava muito frio: avancei para o interior, procurando a porta de embarque. Até o aeroporto estava ainda meio adormecido - as lojas fechadas, as senhoras da limpeza a percorrerem os corredores e passageiros lentos. Só os placardes eletrónicos funcionavam totalmente, sem avisos de atrasos ou cancelamentos.
         Na sala de embarque, surpreendeu-me chamarem por mim antes de abrirem as portas - comunicavam-me que me passariam para primeira classe, caso não me opusesse – claro está –, pois uma família havia solicitado o meu lugar para seguir junta. Ora bem, não começo nada mal. Venham lá as vinte e tal horas de voo.

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