A noite
anterior à partida foi longa. De certo modo, achei que tinha despedidas a
fazer: sentei-me no sofá da sala, olhei para a minha vida nos últimos meses e
assegurei-me de que tomava a decisão correta. Adormeci.
Acordei um pouco antes das 5 e tomei um
duche. Sem saber muito bem quando poderia repetir o prazer de um banho,
demorei-me a sentir a água quente tocar-me a pele. De olhos fechados, vi tudo o
que tinha conquistado até chegar a este momento. Vesti uma roupa leve, um
casaco quente e carreguei uma mala praticamente vazia. O táxi estava à porta à
hora marcada:
- Bom dia, menina!
- Bom dia. - respondi sem corresponder ao entusiasmo matutino.
- Então vamos lá até ao aeroporto.
- Sim, obrigada.
O taxista estava bem disposto e com
vontade de conversar, mas as minhas respostas curtas desencorajaram-lhe as
tentativas. Peguei na pequena mala (que não passou sem um comentário do homem),
paguei o percurso e parei defronte da placa PARTIDAS. Ainda era de noite e
estava muito frio: avancei para o interior, procurando a porta de embarque. Até
o aeroporto estava ainda meio adormecido - as lojas fechadas, as senhoras da
limpeza a percorrerem os corredores e passageiros lentos. Só os placardes
eletrónicos funcionavam totalmente, sem avisos de atrasos ou cancelamentos.
Na sala de embarque, surpreendeu-me
chamarem por mim antes de abrirem as portas - comunicavam-me que me passariam
para primeira classe, caso não me opusesse – claro está –, pois uma família havia
solicitado o meu lugar para seguir junta. Ora bem, não começo nada mal.
Venham lá as vinte e tal horas de voo.
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