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segunda-feira, 10 de agosto de 2015

A varanda (ii)

Ana não conseguia mexer-se; a frescura que procurara na varanda depressa se havia transformado num calor insuportável que lhe incandescia a face. O pequeno grupo de talvez uma dúzia de pessoas balançava entre uma vontade incontrolável de rir e um sentimento de culpa pela mesma. Pedro correu a avisar o sr. Alberto, dono da pensão.
As mãos de Ana continuavam a tentar tapar os seios, não muito volumosos - ao menos isso -, mas ainda assim sentia-se terrivelmente exposta. Virou o corpo ligeiramente de lado, não conseguia enfrentar a plateia, mas revelar a nádega esquerda também não lhe parecia grande evolução da situação.
- Menina, o meu Pedro já foi pedir ajuda, não se preocupe. - soltou a Dona Maria.
- Obrigada, - balbuciou - obrigada.
Lá dentro, o sr. Alberto correu a buscar a mala das ferramentas e dirigiu-se ao 303. Bateu à porta, embora não esperasse uma resposta e, afinal, o cenário temido de surpreender alguém na sua intimidade no quarto estava garantido, só que na varanda. 
Pedro acompanhava o proprietário, apanhou a roupa deixada no chão e, empoleirando-se num banco, fê-la chegar a Ana que a vestiu como se a temperatura tivesse, repentinamente, caído uns 10º.
A persiana estava derreada, deixando um espaço no topo, por onde Ana tentava agora espreitar, tentando ignorar a audiência que, aos poucos, ia perdendo o interesse.
A tarefa foi complicada: pesava realmente muito e estava velha; contudo, o sr. Alberto - homem persistente e experiente (não esquecendo a ajuda do jovem Pedro) - conseguiu retirar as ripas e abrir caminho do quarto para a varanda, ou melhor, da varanda para o quarto. Ana entrou, ainda a tentar esconder partes do corpo que já estavam tapadas, e reclamou com veemência hesitante com o proprietário da pensão, enquanto lhe agradecia também ter solucionado o problema.
Depois encarou Pedro, reconheceu as mãos que lhe haviam chegado a roupa e disse-lhe:
- Obrigada pela ajuda.
Pedro estava parado a olhar para ela, já a tinha visto lá de baixo, após o estrondo, mas eram os olhos dela que o paralisavam. Segurava uma ferramenta qualquer nas mãos, mas não se mexia, estava assustadoramente imóvel.
- Ó Pedro, congelaste, rapaz? - admirou-se o sr. Alberto que até há bem pouco tinha contado com a destreza do moço.
Havia um cheiro no ar, ou a cor dos olhos que lhe parecia diferente das outras, um som quase impercetível... nem Pedro, caso fosse chamado aqui a depor, conseguiria explicar a situação. E por isso se entende que apenas tenha conseguido dizer:
- Já reparou? A minha T-shirt é da mesma cor das suas cuecas!

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