ConText

ConText

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

A neve

Há muitos anos que não via nevar. Passar a viver junto ao mar, retirou a neve do meu dia a dia invernal, se não como presença diária, pelo menos como uma promessa real.
Ontem, ao acordar longe de casa, a neve começou a formar-se e, com ela, a promessa concretizada de purificar os solos. Diz quem sabe que é essencial para a terra, convivem com ela como um elemento natural que é, despindo-a das atrações turísticas que inevitavelmente também traz. Penalizando os incautos, a neve provoca cuidados e olhares atentos, como se lentamente o mundo abrandasse para a ver chegar. Quando neva, parece que tudo acontece mais devagar.
Faz falta, por isso, ao mundo. Lá, onde neva, a vida é mais pura, porque é abençoada por este abrandar protetor. Quando o véu pousa, devolve a verdade e honestidade aos homens. O branco cobre e absorve a corrupção no mundo: obriga o tempo a parar em contemplação, exterior e interior, para depois seguirmos renovados. A fé recarrega-se no crer que por baixo do manto branco continuam as sementes que surgirão em breve.
É assim a fé: a certeza de acreditar sem ver, de desprezar os sentidos mais mundanos e confiar no que sentimos com o coração. E é tudo isso que vem num leve floco de neve. 
Por isso, gostava que um manto espesso de neve branca e gelada pudesse cobrir toda a terra, por momentos, para conseguirmos voltar a acreditar, para trazer de volta a honestidade e a fé. A sinceridade inevitável do frio da neve faz falta ao mundo.

1 comentário: