Cá estou. São 7 da manhã e o cheiro neste elevador já está insuportável. Maldita a hora em que achei o 15º andar a última bolacha do pacote. Está decidido, hoje passo na imobiliária e ponho isto à venda. Basta de vistas sobre a cidade! Basta de horizontes infinitos! Basta de pessoinhas lá em baixo como formigas! Basta de pagar este condomínio infernal! Basta!
Todos os dias um episódio diferente, se eu quisesse viver numa novela ficava em casa a ver televisão. Mas o que terá sido desta vez? É cheiro a mar? A sargaço? Há algo aqui que não está bem.
Não aguento mais! Stop!! Estou no 7º andar e a partir daqui desço a pé.
A porta abre-se - abrupta - e o ar que entra limpa-me a narinas e eu agradeço. Mas a corrente de ar faz levantar do chão uma pena. Uma pena? Não é possível que o episódio de hoje tenha uma pena...
Desço as escadas, incomodada. O cheiro afinal não estava fechado no elevador e pelas escadas encontro outras penas. Mais penas? No 5º andar, um pouco depois de tirar os sapatos para conseguir descer em segurança, encontro... incrédula: duas gaivotas! Aninhadas no tapete do 5º direito traseiras, pote de água, pote de arroz. O cheiro a inferno e a postura de ataque. Os bicos ameaçadores enfrentaram-me e eu defendi-me. Atirei-lhes os sapatos, desci a correr.
Na imobiliária, acrescentei: “É excelente, vistas sobre a cidade, horizontes infinitos e uma sensação de ter a natureza dentro de portas! A não perder!”
Sem comentários:
Enviar um comentário