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quinta-feira, 21 de junho de 2018

Perdoa-me se não te vejo

De que servem uns olhos se não os uso como deve ser?

Não são uns olhos que me fazem ver, são os olhos que escolho e teimo em privilegiar. Não há obrigatoriedade no uso dos que estão no rosto, podem servir ou não para o que precisamos de enfrentar. Eu escolho teimosamente os outros, os que não se vêem mas que vêem. Escolho olhar-te e encontrar um raio de luz, um som de trompete ou as teclas de um piano. És música e perfeição, ritmo, cores intensas e outras vezes apenas pastel. Não és todos os dias igual. Ontem eras uma montanha que se pode percorrer para sempre, hoje és o mar que apetece provar.

Não vejo os fios de cabelo, vejo linhas de tempo intermináveis. Não vejo as unhas em formas irregulares, vejo toques e carícias e luas de várias formas. Não vejo sinais espalhados à toa, vejo raízes e ramos e folhas e frutos que só tu consegues ser.

Olho-te e trespasso-te com desejos e sonhos e doces vontades. Desculpa se não vejo que às vezes também és só um ser humano. Desculpa se não deixo que erres o passo.

Perdoa-me se não te vejo com os olhos do rosto e só com os olhos da saudade.


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