Depois, vão crescendo lentamente, ao ritmo de milímetros e gramas por dia, e continuam seres inacreditavelmente amorosos: correm, dão gargalhadas, tropeçam, brincam, dão beijinhos e até aprendem a atirá-los com as mãos.
Mais à frente, os sons das palavras vão saindo divertidamente trocados, as roupinhas preenchem corpos que parecem amostras de gente grande, vão concretizando habilidades e espantando todos com competências inesperadas.
São assim todos os bebés: meninos e meninas, mais magrinhos ou mais gordinhos, pretinhos ou branquinhos.Tão adoravelmente frágeis que queremos proteger.
E, na maior parte das vezes, conseguimos; protegemo-los do frio, do vento, da chuva, da terra, do pó, da areia, do lixo, do sol, do calor, até dos ácaros e de outros micro-organismos. Há gorros que tapam as orelhas, lenços que cobrem o pescoço, luvas que escondem as mãozinhas, galochas que isolam os pés, cremes que fornecem escudos à pele e óculos que impedem a passagem de raios nocivos.
Mas ainda mais importante do que tudo isso, há mãos que lhes lavam as mãos (e os pés, e o pescoço, e as orelhas, e o rabinho) - fica tudo mesmo muito limpinho. Há mãos que lhes seguram as mãos enquanto atravessam estradas e percorrem caminhos. Há mãos que lhes cortam o pão do lanche e lhes barram a manteiga. Há mãos que lhes apertam os cordões para não tropeçarem. Há mãos que lhes penteiam o cabelo para não ficar desalinhado. Há mãos que lhes lavam a louça para não se magoarem. Há mãos que lhes preparam a caneca de leite para não perderem tempo.
Há ainda mãos que lhes cortam o bife porque é muito difícil, há mãos que lhes preparam a mochila porque dá muito trabalho. Há mãos que os levam até ao portão de dentro da escola porque o caminho é perigoso, às vezes até há braços que os levam ao colo porque o caminho é longo.
Há tudo o que possa ajudar os meninos e meninas, porque o mundo é um perigo, o mundo é um abismo, o mundo - agora - é muito diferente. O mundo agora está cheio de crianças e jovens que permanecem bebés.
E, de repente, há cérebros que não precisam de ser ligados. Permanecem em stand by, porque há mãos que lhes fazem tudo.
Esses são os maricas: não os outros.
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