- Foi à minha escola uma escritora, mamã.
- Que bom! Gostaste?
- Sim. Ela falou sobre as histórias que escreve e disse que alguns dos meninos das suas aventuras são meninos de cor.
- Ai sim? De cor?
- Sim.
- De que cor?
A esta pergunta, a resposta foi apenas um olhar. Como se pela primeira vez se apercebesse do que tinha acabado de dizer.
Há, de facto, cicatrizes que demoram a passar. A humanidade tem aberto inúmeras feridas que são, depois, difíceis de curar. Não são assuntos leves e as palavras podem ser apenas palavras ou podem ser tudo. Depende do peso que levam consigo.
Eu escolho tirar-lhes o peso: às vezes e apenas simbolicamente.
Eu sou branca (até de mais para o meu gosto). Tenho amigos pretos. Ou melhor, são castanhos. Mas eu também não sou bem branca: sou meia rosa misturada também com amarelo... É uma cor esquisita, para dizer a verdade. A minha base de maquilhagem é bege (diz na embalagem), mas eu vejo castanho.
Tenho amigos ainda mais claros do que eu, e outros bem mais escuros. Alguns são tão corados que só lhes posso chamar vermelhos (e não é daqueles que têm mau gosto desportivo). Outros amigos são mulatos - os giros: nunca vi mulato feio! Diz no dicionário que são de pai branco e mãe negra ou vice versa.
Na verdade, segundo uma decisão da ONU logo após a II Guerra Mundial, deveríamos era falar de grupos étnicos e não de raças ou de cores. Pois... Há nomes para todos os grupos étnicos? Há um número fechado de grupos étnicos no mundo?
A mim pouco me importa. Se preciso de caracterizar alguém com algum traço distintivo posso usar muito bem a cor da sua pele e dizer um preto; ou a cor do seu cabelo e dizer um ruivo; e por aí fora. Posso, não posso? Ou é falta de educação e deveria dizer negro? Africano de certeza que não! Tenho um lá em casa que ainda é mais branco do que eu!
Posto isto, vou continuar a dizer preto, porque o digo sem peso. Mas sei bem que ainda há pesos de que temos de nos libertar. E é por isso, por exemplo, que o dia da mulher ainda faz sentido, e muito. Basta ler o jornal.
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