Cresci tranquila, num mundo onde desejar a paz no mundo parecia quase uma anedota própria de meninas loiras e que pouco ou nada entendiam do que desejavam (sortudas!). Nasci e cresci num mundo tendencialmente solidário e consciente. Cresci sem entender verdadeiramente o papel dos militares num país como o nosso. Vivi a Europa como espaço de partilha e de aprendizagens. Sentei-me nas escadarias da National Gallery só para ler um livro ao sol. Fiz amigos de todas as nacionalidades; vivi com católicos, muçulmanos, hindus e testemunhas de jeová e eram apenas colegas lá de casa. Tornei-me mulher sem ter medo de o ser. A guerra, ainda que transmitida em direto, estava tão longe.
Que sorte tive em ter crescido num mundo assim.Contudo, estudei utopias que me mostraram como é perigoso esquecer que o mal existe, sublinhando a importância de ciclos reavivadores de memórias e sentidos. Aprendi a dar valor a todas as coisas boas, porque cedo algumas das melhores coisas da minha vida tiveram que ir embora. Nunca dei nada como garantido na minha vida. Exceto talvez a paz.
Agora, proíbo-me de verbalizar aquilo que sinto. O que verdadeiramente sinto não pode ser audível, pois expressá-lo seria dar-lhes a vitória. Posso ter crescido em paz, mas sei arregaçar as mangas para lutar. E lutar, para mim, é saber amar.
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