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sexta-feira, 13 de novembro de 2015

O autocarro (fim)

José apoiou as mãos nos joelhos e tentou recuperar o fôlego, enquanto pensava como com uma T-shirt estaria bem mais confortável. Ainda com a respiração acelerada, levantou o olhar e confirmou que o autocarro parara. Havia uma agitação lá ao fundo que não conseguia entender e, por isso, aproximou-se.
Carlos foi o primeiro colega que conseguiu identificar no exterior. Limpava as mãos a algo enquanto conversava com alguém. O carro que tinha apitado ainda há pouco arrancava a toda a velocidade. 
Outros colegas estavam ainda a sair do autocarro, e havia um burburinho constante mas pouco sonoro. José chegou finalmente perto deles: o seu olhar fazia todas as perguntas que não precisavam de verbalizações. Rita, a delegada da turma dele, aproximou-se e explicou.
Ao fim da tarde, ao chegar a casa, embora começasse já a agradecer a quentura da sweat, disse à mãe:
- Amanhã, levo uma t-shirt!
- Boa tarde! - replicou a mãe, colocando em evidência a indelicadeza do filho.
- Desculpa, mãe. Olá! Mas amanhã levo mesmo uma T-shirt!
- Então? Tiveste muito calor? Olha que agora ao fim do dia já sabe bem uma camisola mais quentinha. Não quero que fiques doente.
- Melhor doente do que com a cabeça rachada!
- O quê?!
Lucas vinha dentro do autocarro, nas últimas filas. Estava muito sol, o calor triplicava lá dentro. Farto de se sentir desconfortável, levantou-se e começou a tirar a camisola quente que trazia vestida, mas enquanto a fazia passar pela cabeça, um movimento do autocarro provocou-lhe desequilíbrio. Caiu para o corredor do autocarro, bateu com a cabeça no banco do lado de lá, raspou o peito descoberto contra o repouso de braços, muito danificado, do seu banco. Havia sangue a escorrer pela barriga, sangue a jorrar pelo nariz, um lanho visivelmente profundo no rosto. Carlos correu a levantá-lo, num movimento automático. As raparigas gritavam, pedindo socorro e o motorista, que se preparava para os deixar na paragem da escola, olhou pelo retrovisor e acelerou com um novo destino: hospital.
- Então por que parou no fim da avenida? - perguntou a mãe, já arrependida de ter guardado as T-shirts no armário mais alto do sótão.
- A Maria estava ao telefone com a mãe, que seguia no carro, uns metros atrás do autocarro. Em direto foi ouvindo a descrição. Contou-a ao marido que estava a conduzir. Apitaram para que o autocarro parasse. Pegaram no Lucas e levaram-no para o hospital.
- Ele está bem?
- Ainda internado em observações, por causa da pancada na cabeça. Mas parece que sim.
- E a tua mochila? Que aconteceu?
- Quando eu ia a correr e me livrei do peso dela, aterrou no lago da avenida... 

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