Tinha conseguido alugar um quarto, num bairro no norte de Londres, e toda a casa e suas características me pareciam extremamente estrangeiras. Não podíamos andar calçados lá dentro, havia uma chave para ativar a eletricidade, não existia bidé na casa de banho... Um grill estava no lugar do exaustor e deste, inexistente, não senti falta. A cama tinha uma cabeceira amovível e a claridade escondia-se com uma cortina, apenas. Sem persiana, a janela parecia-me sempre aberta! Era apenas uma casa, contudo, havia que reaprender a conhecer uma casa.
Em nenhum momento me senti arrependida e as diferenças excitavam-me os sentidos. Na primeira noite, ao passar Picadilly Circus, pensei que estava num filme, ou talvez num noticiário do canal 1 (como dizíamos então). Belisquei-me para acreditar que estava ali, a olhar os sinais luminosos todos, e onde encontrei o meu primeiro obstáculo linguístico. Por pouco interessante que possa parecer, ele foi o vinagre. O grupo pedia batatas fritas num cone de papel (tal qual as nossas castanhas!) e queriam saber se eu queria vinegar. Vinegar?? Com a pronúncia londrino-asiática dos meus companheiros, vinegar tornou-se a palavra mais impercetível do mundo - até o ter cheirado e respondido: "Sim! Quer dizer, yes, please!! Vinegar, I love vinegar!" Embora vinagre nas batatas fritas fosse, para mim, uma estreia.
(continua)
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