Coisa rara: o dia estava mesmo a correr bem – chegara a tempo para o almoço com a melhor amiga –, mesmo depois de ter interrompido a marcha rápida para ver uma gaivota tão gulosa como ela própria. Parara a meio do caminho para a observar – branca, cinzenta e sempre alerta –, admirou-a e só depois seguiu para o carro estacionado mesmo ali à frente – o que também era coisa rara. Assim, não havia dúvidas: o saldo estava extremamente positivo neste dia – pelo menos nesta primeira parte do dia... Depois da sobremesa – gelado de nata com cobertura de caramelo –, deram um pequeno passeio pelo parque, onde puderam pôr as conversas realmente importantes em dia. Os temas eram claramente inadiáveis – assuntos de urgência, digamos, feminina; questões de brilho ou opacidade – também o poderíamos dizer assim. O cabelo da Rosa estava a ficar mortiço, sem vida, como que a precisar de um sopro de juventude. Maria, por sua vez, tinha encontrado a fórmula ideal para o rejuvenescimento capilar: mel, azeite e apenas umas gotinhas de sumo de limão – verdadeiro! E durante a partilha absolutamente fundamental e imprescindível, eis que uma gaivota, sobrevoando o parque que dava mesmo de frente para a linha de mar, alivia um elixir muito pouco milagroso que aterra, certeiro e impiedosamente, nos cabelos mortiços e baços de Rosa e nos esplendorosamente nutridos de Maria.
(Receitas e acontecimentos ficcionados!)