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sexta-feira, 11 de setembro de 2015

A varanda (iii)

Ana não queria acreditar no que ouvira: a ligação entre as suas cuecas e a T-shirt do moço parecia-lha completamente absurda. Olhou para Pedro, baixou o olhar ao peito dele, voltou a encará-lo, inspirou fundo e disse:
- De facto!
De facto?? De facto?? Enlouqueci, só pode!
O silêncio que se instalou foi especialmente apreciado pelo sr. Alberto que precisava de alguma concentração para descobrir como solucionar definitivamente o problema da velha e pesada persiana.
- Menina, isto não está bonito. - informou calmamente o proprietário. - Vou precisar de desmontar o caixilho superior, endireitar as calhas, substituir as lâminas danificadas...
Pedro, parecendo ainda procurar o tal som que pensava ouvir, sorriu.
- Precisa de mim, sr. Alberto?
- Não, obrigado. Mas isto só fica pronto ao fim da tarde, menina.
O suspiro de Ana acompanhou o baixar dos ombros. Estava o dia perdido, assim parecia.
- Não posso oferecer-lhe outro quarto, que estão todos ocupados, mas prometo que serei rápido. Antes do jantar isto fica prontinho. É só aproveitar bem a tarde. E é o que a menina podia fazer: aproveitar bem o dia bonito que está lá fora, dar um passeio, conhecer as redondezas. Sempre será melhor do que ficar aqui enfiada no meio dos papéis. - sugeriu, olhando a secretária.
Ana seguiu-lhe o olhar: encarou os papéis, pensou na manhã subaproveitada e na tarde completamente perdida. Aceitou-as. Inspirou ainda possuída pela loucura do "de facto".
- Pedro, não é? - perguntou ela, virando-se para o rapaz.
- Sim, sim. - respondeu como se confrontado por algum general.
- Muito bem, Pedro, parece que não vou trabalhar muito durante a tarde. Mas para já, julgo que já merecemos um almoço. Posso agradecer-lhe a ajuda, convidando-o para almoçar comigo?
E lá vinha o tal som, saído não sei de onde, baixinho, baixinho; e o aroma... Sorrindo apenas com o olhar, pousou a ferramenta que ainda segurava com vigor e sugeriu:
- No bar da praia, o prato do dia é peixe vermelho no forno!
As gargalhadas soltaram-se e, finalmente, a atmosfera cresceu, como se avançasse a varanda e se estendesse pelo campo de erva já pouco verde.
- Adequado! Vamos lá então.
Só o sr. Alberto, confundido com tanta risada, ficou sem perceber a piada do peixe vermelho.

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