Luísa
achou piada à minha resposta e quis saber mais da minha história. Estava em
Milão, infiltrada num grupo de pessoas que desconhecia, dirigia-me para Timor
via Doha e Singapura e eles para o Sri Lanka via Doha e pensei Porque não?
A
professora de Educação Física, como se apresentou, encantou-se com os meus 25
anos repletos de esperança e alegria e com o meu relato. Foi fazendo as
perguntas certas e teve de mim sinceridade por, de repente, sentir que talvez
precisasse de uma segunda opinião. Acabei por lhe contar, com alguns detalhes,
os últimos dois anos da minha vida - começando pelo acidente de mota.
Assim que embarcámos, terminei de
descrever os dois meses internada pelos múltiplos traumatismos que sofri.
Depois de nos rirmos com as dores que partilhávamos com as alterações do tempo,
ela passou a mão no meu rosto e enterneceu o olhar quando me disse:
-
Ainda bem que não ficaram
mazelas. É jovem. Tem a vida pela frente.
Ouvi a frase ainda mais essa vez e,
como das outras, pensei na vida que aí viria. Sentámo-nos lado a lado no avião
e preparámo-nos para as 8 horas de viagem: tirei o casaco, descalcei as
sapatilhas, agradeci a manta e as meias, tirei o livro da mala e arrumei-a por
baixo do meu acento.
Assim que iniciou a marcha de preparação
para a descolagem, Luísa agarrou na minha mão e eu senti que ela suava
ligeiramente.
Vai
correr tudo bem! - e de repente pensei se estaria a falar com ela ou comigo
mesma.