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segunda-feira, 26 de setembro de 2016

Segunda-feira

E se, de repente, tudo acontecesse à segunda-feira? Marque na agenda!
Este é o melhor dia da semana: o dia dos recomeços, das vontades renovadas, da concretização dos planos e sonhos.

Hoje queria só dizer que é maravilhoso abraçar quem amamos.

Hoje é o dia certo para mim.
Será o dia certo para si? 


quarta-feira, 21 de setembro de 2016

Brincadeira de mau gosto

Existe, pelos vistos, uma aplicação que permite agendarmos partidas telefónicas a amigos. Baixamos a aplicação e depois é só escolher o tipo de partida que queremos pregar a alguém: pode ser dizer que essa pessoa será alvo de uma penhora por ilícitos fiscais, acusá-lo de ter de pagar os estragos por ter batido num carro, dizer que o seu cão é irritante e vai ser abatido, entre outros tópicos tão imensamente (não) engraçados. Exploram o assunto da forma mais séria possível, fazem todas as acusações possíveis e imaginárias, insultam e depois desligam (não sem antes fazerem publicidade ao maravilhosos serviço).
O fundo comercial é este: a aplicação é grátis e as primeiras seis partidas também. Depois, pode adquirir pacotes de partidas por um determinado preço. E é legal. Pelos vistos.

Eu até me considero uma pessoa com bom humor, mas provocar mau estar nos outros nunca foi um dos meus objetivos de vida, nem a brincar. Se já provoquei dissabores em outros, garanto que nunca foi com intenção sádica de obter prazer no sofrimento dos outros.
Talvez eu esteja a exagerar, talvez seja eu que não tenho sentido de humor (já mo disseram, embora eu ache mesmo muito estranho - sempre pensei que tinha), mas estas brincadeiras são mesmo de muito mau gosto. Principalmente por permitirem que quem decide pregar a partida mantenha o anonimato. É que nestas brincadeiras, parece-me, a piada pode até estar na revelação final de quem está a brincar contigo e te conseguiu enganar. Talvez aí eu achasse alguma piada. Assim, de forma covarde, não.
Já agora, costumo ouvir e gostar das chamadas telefónicas do Nilton. É igual? Não. Ele, no final, revela a verdade e aguenta-se à bronca.
O meu "amigo" não teve tomates. É pena.

terça-feira, 13 de setembro de 2016

A prova de amor

Justina sentou-se ao lado do filho, embora todas as atenções se dirigissem para o neto. Olhava-o intensamente e lembrava-se de quando tinha sido mãe, há 33 anos. Há qualquer coisa no olhar de um bebé que consegue apagar todas as dores: mesmo aquela que a dominava quando ela havia gerado o seu filho. Era a obrigação da mulher, mas Justina nunca percebera como um ato tão violento podia provocar prazer no outro. Era um mistério infeliz com o qual vivera sempre, até ao dia iluminado e recente que lhe levara o marido num acidente com o camião que conduzia. 
Da dor intensa da sua obrigação de esposa nascera um único filho, aquele que agora estava sentado ao seu lado, com a mulher e o pequeno David. Justina admirava-os a todos, mas só tinha olhos para o neto. Enquanto o pequeno balbuciava palavras impercitevelmente deliciosas, ela imitava-lhe os sons e sorria. Era finalmente um sorriso calmo, sem medo, puro e verdadeiro. Sorria para o neto que lhe devolvia a pureza em gargalhadas e movimentos ainda descoordenados. 
As mesas do shopping onde almoçavam estavam todas cheias, no frenesim normal de um dia de chuva lá fora. Na mesa de Justina não se ouvia mais nada: só os sons dele, daquele boneco doce que se multiplicava em expressões de felicidade.
Tinha sido assim com o marido, com o filho, e agora com o neto: oferecia a ternura e o carinho e recebia o que viesse, tranquila, em aceitação total daquilo que é e não pode ser mudado. Recebera sempre pouco, muito pouco, se excluísse os murros, insultos e desrespeitos. Do filho tinha amor.
Justina olhava o neto na certeza de que a atenção que lhe dedicava torná-lo-ia um homem bom, como tinha feito com o filho.
O terror do regresso a casa já não existia, sentia-se leve e conseguia ver tudo com mais nitidez. Sem sobressaltos, apreciava os dias e as horas de forma diferente: eram perfeitos. Não havia culpa nesta serenidade, só aceitação da vida, como sempre, como antes.
A certa altura, a nora percebeu que o marido tinha ficado sem água no seu copo. Pegou na sua garrafa, estendeu-a ao marido e disse:
- Toma. Bebe da minha.
Justina desviou o olhar do neto. Respirou fundo. E disse: 
- Sabes, isso que acabaste de fazer é uma grande prova de amor. É sinal de que amas o teu marido, que lhe queres bem.
E no silêncio continuou:
- Sabes, eu nunca tive isso.