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quinta-feira, 5 de maio de 2016

Adoro-te, porca!

Sempre fui apaixonada pelas palavras. Aprendi a conhecer-lhes o significado e a associar-lhes valor. Tenho a minha própria forma - como temos todos - de lidar com elas. Porque sou do norte, acrescento-lhes sons e torno-as mais redondas, talvez até mais pesadas, mas garanto que as adoro. Gosto de as explorar, de brincar com elas, de lhes perder o medo, de as respeitar, ou de as reinventar.
Por exemplo, aceitei a palavra madrasta, quase ao mesmo tempo que preenchi os recantos da palavra saudade; percebi o que queria dizer amor quando a liguei à dor do parto; entendi a palavra coragem quando perdi o medo à solidão; conheci o valor da palavra amizade quando dela dependeu a sanidade. As palavras são tudo. Dizem exatamente aquilo que significam e só através delas conseguimos legendar a importância do mundo.
Prefiro chamar tristeza - em vez de revolta - ao que tantas vezes sou obrigada a testemunhar. Retirar o significado das palavras (e dos gestos, das atitudes, dos comportamentos) é banalizar um mundo que é precioso de mais. Nos dias mais escuros, em que me é mais difícil enxergar a luz, quase baixo os braços perante a força dos banalizadores. São tantos que me assustam.
Mesmo assim, continuo a luta! A luta contra:
- os que insultam os amigos, porque era só a brincar;
- os que gozam o colega, porque era só a brincar;
- os que apalpam a rapariga que passou no corredor, porque era só a brincar;
- os que atiram papéis à professora, porque era só a brincar;
- os que chamam porca à irmã, porque era só a brincar.
Sou dos da luta contra os banalizadores. Fico triste ao ver tanta gente que não consegue identificar a importância das coisas. Cansada de ouvir dizer: "Deixe lá, é igual!" Não, não é igual!
Adoro-te, meu amor não é igual a adoro-te, porca. Inclusivamente, este é o meu título de post mais feio de sempre!

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