Entrou primeiro o avô. Estava zangado com a neta que o seguia, mas ao longe, atrás da mãe e da avó. Depois entrou também a tia-avó da criança. Eram talvez umas 4 da tarde e tinham ido buscar a menina, talvez com uns 4 anos, à escolinha. Entraram ali, provavelmente num gesto habitual, para lanchar. O pão quente onde estávamos tem muita oferta para um lanche delicioso. Enquanto eu bebi o meu chá de limão - a constipação está em força -, eles sentaram-se numa mesa de quatro, embora fossem cinco. A tia-avó tinha ido à casa de banho e a menina estava sentada ao lado da mãe. O avô continuava zangado: "Não quero conversa contigo! Então eu sou algum monstro para me fugires?" E ela, em jeito de resposta, pôs as duas mãos a tapar os ouvidos e olhou para outro lado. Não há dúvida que a mensagem estava a passar. "Que mal educada" continuava o avô. Quando a menina da confeitaria os foi atender, a criança levantou-se para escolher o que queria lanchar na montra. A mãe acompanhou-a. Entretanto, a avó, fosse por que razão fosse, decidiu sentar-se na cadeira onde tinha estado até ali a pequena. Ao voltar, do alto dos seus 4 anos, disse "Esse lugar é meu!" e continuou "Era eu que estava aí". Para ajudar a passar a mensagem, ia empurrando a avó que só lhe respondia "Senta-te nessa!", ao que a pequena respondia "Sai! Aí sou seu!". A mãe da criança, senhora de vinte e tal anos, de uma educação peculiar, disse: "Ela tem razão, mãe. Era ela que estava aí. Não tinhas nada de te sentar aí. Era o lugar dela." A avó, encurralada entre os empurrões da neta e os reparos da filha, levantou-se e mudou de lugar, devolvendo a cadeira à pequena. Entretanto, a tia-avó, mais nova do que os avós, regressa da casa de banho e arranja uma cadeira numa mesa vizinha, arrastando-a ruidosamente, levando de arrasto uma outra cadeira da mesa ao lado, onde o cliente havia pousado uns óculos e a carteira que quase pararam no chão.
Finalmente, chegaram os pedidos e a menina - de 4 anos, relembro - observou cuidadosamente o seu lanche: uma Coca-Cola e uma Bola de Berlim. Todos lancharam qualquer coisa e sempre que os avós falavam, a criatura tapava os ouvidos. Bebendo a sua Coca-Cola e comendo a sua Bola de Berlim em pequenas garfadas que a tia-avó lhe ia dando, continuava a espalhar charme quando, ao passar, um senhor lhe fez um sorriso e disse: "Que linda!", ao que respondeu com o já habitual gesto de mãos a tapar os ouvidos. O avô, depois de lanchar rapidamente, disse que queria ir embora, levantou-se, foi pagar e informou que esperaria lá fora. A conversa continuou de qualidade elevada. Dizia a avó "Despacha-te a comer, rapariga, o avô está doente e quer ir embora." Ao que a criança, adivinhem!!, respondeu tapando os ouvidos. E então a avó, insistiu, variando "A comer bolos... Só dais merda à criança... Foda-se!" E pronto, a mãe da criança não tapava os ouvidos, mas a atitude não diferia muita da da pequena. A avó, ainda mais indignada, continuava a reforçar: "Despacha a miúda, o teu pai está doente", "Já vai, mãe, foda-se, já ouvi...". A avó levantou-se, e resolveu esperar com o marido lá fora. A tia-avó, perpetuamente silenciosa, continuava a alimentar a Bola de Berlim em pequenas garfadas à doce criatura. A mãe levantou-se e, num ataque súbito e estranho de consciência disse "Anda. Ele quer ir embora. Ainda se chateia!" Foi apertando o casaco e a tia-avó, impávida, continuava, garfada atrás de garfada, a insistir em nutrir a menina. Por fim, levantaram-se todas e dirigiram-se à porta, não sem antes a criança dizer: "Quero fazer xixi!" E os casacos voltaram a ser despidos e lá foi, mãe e filha, à casa de banho. Alguns minutos mais tarde, saíram.
Entretanto, penso que consegui fechar a boca. Queria fazer comentários, mas preferi escrever este texto.
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