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terça-feira, 6 de dezembro de 2016

A propósito de uma notícia sobre Luciana Abreu

À MODA ANTIGA VS WEB 2.0
São verdadeiramente um fenómeno dos novos tempos: os comentários às notícias.
Quando as notícias eram transmitidas apenas pelos jornais (em papel), pela televisão e pela rádio, os recetores - todos nós - eram elementos passivos do processo de comunicação. Ouvíamos, líamos ou víamos um conjunto de notícias selecionadas pelos referidos meios de comunicação, mas não tínhamos qualquer papel ativo em termos de resposta às mesmas. Ou melhor, os comentários que fazíamos eram privados - falando sozinhos - ou, noutros casos, em família ou pequenos grupos de amigos. 
Atualmente, a web 2.0 permite que o recetor seja também emissor, logo pode responder e dar a conhecer os seus comentários a um universo bastante alargado de pessoas: os próprios meios de comunicação e todos os outros recetores. E é sobre este fenómeno que me quero debruçar hoje: os comentários às notícias online.

ADORO COMENTAR
Com a possibilidade de comentarmos as notícias todos aprendemos coisas novas e ainda nos são oferecidas novas funcionalidades, isto é, as notícias deixam de ser apenas informativas para passarem a ter - em potência - uma finalidade lúdica, de entretenimento e, devo acrescentar, de comédia da boa, mesmo boa!

MOTVOS SÉRIOS
Primeiro as coisas sérias: se a uma notícia um leitor comenta acrescentando detalhes importantes, saímos a ganhar em informação e conhecimento - sim, isto acontece. 

MOTIVOS MAIS OU MENOS SÉRIOS
Em segundo lugar, as coisas mais ou menos sérias: se um leitor comenta uma notícia desabafando experiências pessoais, ganhamos consciência de que não estamos sozinhos no mundo, sentimo-nos amparados e reconfortados pela identificação com outros elementos da comunidade.

MOTIVOS EXTREMAMENTE SÉRIOS
Por fim, as coisas mesmo - mas mesmo muito - sérias: em muitos casos, os leitores aproveitam os comentários para se insultarem uns aos outros, seja a propósito da opinião que têm sobre a notícia, seja, nos casos mais apurados de estupidez, apenas porque sim. Assim, os leitores como eu - que reservam a opinião para posts no Face ou textos no blogue, nunca usando a possibilidade de comentar as notícias no site onde ela é publicada - ganham uma atividade extra e imensamente enriquecedora: admirar a extensão da estupidez humana ou, verdade seja dita, admirar a extrema inteligência de alguns comentadores (aqui sem ironia). 

É mesmo muito divertido passar alguns minutos a ler os comentários que as pessoas fazem às notícias e aos comentários dos outros. Mas como isto se entende melhor a partir de exemplos, passo a descrever a notícia (e respetivos comentários) que motivou este texto: Luciana Abreu e sua mãe.

A NOTÍCIA SOBRE A MÃE DE LUCIANA ABREU
Hoje de manhã, como sempre faço, li as gordas de um ou dois jornais diários. Li a notícia completa em 4 ou 5 casos. E em apenas um, li também os comentários à notícia. 
Pela pertinência do assunto, não pude deixar de ler, na íntegra, a notícia que dá conta dos motivos que levaram a mãe de Luciana Abreu a sair de casa da filha. Passo a explicar: a senhora não saiu porque quis, mas porque foi convidada, pela filha, a fazê-lo. E isso faz toda a diferença! (Mais uma vez, sem ironia.) Sinceramente: não é igual decidir sair ou ser convidada a sair. Esta controvérsia é, de facto, pertinente; embora a considere relevante para o universo familiar onde se insere, é de importância zero para o universo das notícias nacionais. Outra vez: claro que é importante esclarecer por que motivos a senhora saiu de casa da filha - para a família mais próxima, com certeza; mas completamente ridículo que isso seja motivo para uma notícia num diário nacional!! De qualquer forma, isto não é nem raro, nem surpreendente: já estamos habituados a este fenómeno.

OS COMENTÁRIOS À NOTIÍCIA
O que pretendo realmente comentar aqui são os comentários à notícia. Coincidentemente, o primeiro comentário à notícia, ganha, a meu ver, o primeiro lugar no pódio dos comentários. O senhor X comentou a notícia apresentando, detalhada e demoradamente a receita completa de polvo à lagareiro. Aí está, tal como eu dizia - sem ironia - a prova de que alguns comentadores são muito inteligentes  e os seus comentários importantes para o alargar do conhecimento dos leitores. 

sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

Uma história real!

Entrou primeiro o avô. Estava zangado com a neta que o seguia, mas ao longe, atrás da mãe e da avó. Depois entrou também a tia-avó da criança. Eram talvez umas 4 da tarde e tinham ido buscar a menina, talvez com uns 4 anos, à escolinha. Entraram ali, provavelmente num gesto habitual, para lanchar. O pão quente onde estávamos tem muita oferta para um lanche delicioso. Enquanto eu bebi o meu chá de limão - a constipação está em força -, eles sentaram-se numa mesa de quatro, embora fossem cinco. A tia-avó tinha ido à casa de banho e a menina estava sentada ao lado da mãe. O avô continuava zangado: "Não quero conversa contigo! Então eu sou algum monstro para me fugires?" E ela, em jeito de resposta, pôs as duas mãos a tapar os ouvidos e olhou para outro lado. Não há dúvida que a mensagem estava a passar. "Que mal educada" continuava o avô. Quando a menina da confeitaria os foi atender, a criança levantou-se para escolher o que queria lanchar na montra. A mãe acompanhou-a. Entretanto, a avó, fosse por que razão fosse, decidiu sentar-se na cadeira onde tinha estado até ali a pequena. Ao voltar, do alto dos seus 4 anos, disse "Esse lugar é meu!" e continuou "Era eu que estava aí". Para ajudar a passar a mensagem, ia empurrando a avó que só lhe respondia "Senta-te nessa!", ao que a pequena respondia "Sai! Aí sou seu!". A mãe da criança, senhora de vinte e tal anos, de uma educação peculiar, disse: "Ela tem razão, mãe. Era ela que estava aí. Não tinhas nada de te sentar aí. Era o lugar dela." A avó, encurralada entre os empurrões da neta e os reparos da filha, levantou-se e mudou de lugar, devolvendo a cadeira à pequena. Entretanto, a tia-avó, mais nova do que os avós, regressa da casa de banho e arranja uma cadeira numa mesa vizinha, arrastando-a ruidosamente, levando de arrasto uma outra cadeira da mesa ao lado, onde o cliente havia pousado uns óculos e a carteira que quase pararam no chão.
Finalmente, chegaram os pedidos e a menina - de 4 anos, relembro - observou cuidadosamente o seu lanche: uma Coca-Cola e uma Bola de Berlim. Todos lancharam qualquer coisa e sempre que os avós falavam, a criatura tapava os ouvidos. Bebendo a sua Coca-Cola e comendo a sua Bola de Berlim em pequenas garfadas que a tia-avó lhe ia dando, continuava a espalhar charme quando, ao passar, um senhor lhe fez um sorriso e disse: "Que linda!", ao que respondeu com o já habitual gesto de mãos a tapar os ouvidos. O avô, depois de lanchar rapidamente, disse que queria ir embora, levantou-se, foi pagar e informou que esperaria lá fora. A conversa continuou de qualidade elevada. Dizia a avó "Despacha-te a comer, rapariga, o avô está doente e quer ir embora." Ao que a criança, adivinhem!!, respondeu tapando os ouvidos. E então a avó, insistiu, variando "A comer bolos... Só dais merda à criança... Foda-se!" E pronto, a mãe da criança não tapava os ouvidos, mas a atitude não diferia muita da da pequena. A avó, ainda mais indignada, continuava a reforçar: "Despacha a miúda, o teu pai está doente", "Já vai, mãe, foda-se, já ouvi...". A avó levantou-se, e resolveu esperar com o marido lá fora. A tia-avó, perpetuamente silenciosa, continuava a alimentar a Bola de Berlim em pequenas garfadas à doce criatura. A mãe levantou-se e, num ataque súbito e estranho de consciência disse "Anda. Ele quer ir embora. Ainda se chateia!" Foi apertando o casaco e a tia-avó, impávida, continuava, garfada atrás de garfada, a insistir em nutrir a menina. Por fim, levantaram-se todas e dirigiram-se à porta, não sem antes a criança dizer: "Quero fazer xixi!" E os casacos voltaram a ser despidos e lá foi, mãe e filha, à casa de banho. Alguns minutos mais tarde, saíram. 
Entretanto, penso que consegui fechar a boca. Queria fazer comentários, mas preferi escrever este texto.