Não alinho nas críticas irónicas de que em noite de eleições foram todos estranhamente vencedores. Na verdade, não podemos ignorar uma série de resultados surpreendentes.
O maior de todos tem de ser, infelizmente, o da abstenção: continuamos a verificar que a maior parte da população está (não desligada da política, como se costuma dizer), mas desligada da vida. Ainda não consigo entender por que deixam que escolham por eles, quando, aparentemente, parecem ser tão críticos e senhores de opiniões em relação a tudo. No momento em que podem, de facto, marcar a diferença, importar, mostrar que existem, escolhem uma apatia ridícula e ignorante.
Em segundo lugar, os resultados dos candidatos: um eleito à primeira volta sem um único cartaz nas ruas - obrigada! - embora com anos de direito de antena televisivo; um intelectual mais ou menos desconhecido que se mostrou próximo das pessoas é capaz de derrubar máquinas partidárias; uma jovem doutrinária de teorias tão estranhas, mas que consegue chegar a um número impressionante de pessoas; um calceteiro que ensina, sem dúvida, que a política é um dever de todos e consegue convencer cidadãos de todo o país. E estes foram para mim os vencedores.
Porém, esta campanha disseminou um vírus (uma epidemia, a meu ver) que já andava presente, ainda que mais ou menos confinado. Agora espalhou-se: sem pudor, sem distinções, assustadoramente! Quando estudava na escola primária, aprendi que na nossa língua, quando nos dirigimos ou referimos a um público misto, devemos usar o género masculino. E foi assim durante muitos anos e nunca me senti discriminada por isso; era (e continua a ser!) uma regra da língua portuguesa. Dava até azo a algumas brincadeiras engraçadas e inofensivas. Agora, já todos ouviram, perdeu-se o uso dessa regra entre os políticos. Somos obrigados a ouvi-los repetir todos os vocativos, determinantes, nomes e adjetivos no masculino e no feminino.
Estou farta! Primeiro, eram apenas os da esquerda moderna, mas nesta campanha alastrou-se deselegantemente a todas as fações. Primeiro, limitavam-se a acrescentar o feminino logo a seguir ao masculino (imagino as horas de treino que foram precisas para mecanizar o trejeito!), mas agora até dizem o feminino antes do masculino numa espécie de competição absurda e patética sobre quem dá mais importância às mulheres! Torna o discurso pesado, é um pouco patético, não flui, não enriquece os enunciados e muito menos prova que dá importância às mulheres.
Quando me dirijo aos meus leitores, dirijo-me a todos os meus leitores. Preciso de explicar o que isso significa? Tenho a certeza de que não! E o que se segue? Deixar de dizer queria um café para passar a dizer quero um café?? Não deixem, por favor.